Na contemporaneidade muito se discute acerca de concepções e inovações para mudanças no
paradigma da formação em saúde. Nesse sentido, elegemos a priori, como eixo estruturante, a
pedagogia problematizadora que, segundo Freire:
- Ao contrário da „bancária‟, a educação problematizadora, respondendo à essência do ser da consciência, que é sua intencionalidade, (...) Nesse sentido, a educação libertadora, problematizadora, já não pode ser o ato de depositar, ou de narrar, ou de transferir, ou de transmitir „conhecimentos‟ e valores aos educandos, meros pacientes, à maneira da educação „bancária‟, mas um ato cognoscente. (FREIRE, 1988, p.67-68).
Segundo Bordenave (1986), todos os processos educativos, assim como suas respectivas
metodologias e meios, possuem como base uma determinada pedagogia, ou concepção de como as
pessoas aprendem e, a partir daí, modifiquem seu comportamento. Assim, considerando-se a formação do profissional crítico-reflexivo, ético e político que almejamos, destacamos a concepção
problematizadora como base metodológica para o desenvolvimento do currículo do Curso, porém
com adoção de outras concepções pedagógicas, suas aplicações metodológicas e conforme as
especificidades dos conteúdos abordados nos diversos componentes curriculares.
A diversidade e a complexidade dos campos de atuação dos profissionais da saúde sugerem o
delineamento de um novo paradigma para a formação, capaz de romper com a tradição mecanicista e
buscar propostas que favoreçam uma abordagem integrada, complexa e global do conhecimento.
(KELLER-FRANCO, KUNTZER & COSTA, 2012).
Romano (1999, p.50), com base em Bernstein, defende que um currículo é caracterizado como
integrado “quando o conhecimento está organizado em conteúdos que mantém uma relação entre si
[...], existindo uma subordinação das disciplinas previamente isoladas a uma idéia central
relacionadora”.
Segundo Romano (1999, p. 50), "a construção de um currículo integrado deve partir da lógica do projeto
pedagógico do curso, sustentado no conhecimento organizado em conteúdos
que se relacionam entre várias disciplinas e tendo os seguintes princípios
norteadores: concepção de ensino-aprendizagem crítico-reflexivo; totalidade;
interdisciplinaridade; relação teoria e prática; e deve ser considerado como
um processo, ou seja, estar sempre aberto a críticas e mudanças,
considerando o momento histórico-social que se apresente."
Para formar um profissional que atenda ao perfil comprometido com a transformação dos
modelos assistenciais conforme o que preconiza a Resolução CNE/CES nº3/2001 – Diretrizes
Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Enfermagem, este Curso vem buscando a adoção
de metodologias inovadoras no processo ensino-aprendizagem, possibilitando a formação de um
profissional crítico, reflexivo e transformador da realidade, que entenda a saúde como um direito de
cidadania, assegurado nas Políticas Públicas e visando o bem estar social.
A aspiração por uma educação globalizadora e democrática voltada para a formação de
profissionais, cidadãos críticos, reflexivos e transformadores, abre possibilidades para uma abordagem
curricular integradora, comprometida com a integração do conhecimento e a significatividade da
aprendizagem.
A aprendizagem significativa constitui-se num princípio pedagógico que sustenta o processo
ensino e aprendizagem do currículo do Curso de Enfermagem da UEPA, pois é o processo segundo o
qual uma nova informação relaciona-se com aspectos relevantes da estrutura de conhecimento do
aluno, sendo fator importante aquilo que o indivíduo já sabe, respeitando-se seus padrões culturais e as
suas formas de pensar (DELLAROZA & VANNUCHI, 2005).
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (LDB) – nº 9394, de 20 de dezembro 1996,
confere prerrogativa às Universidades no sentido de rever seus currículos e adaptá-los à realidade
social de modo a graduar profissionais em sintonia com os problemas de saúde vigentes. Assim, o
currículo de formação de enfermeiros vigente no âmbito desta universidade foi proposto para atender
ao Parecer nº. 1.133/2001, do CNE/CES, e à Resolução nº 3, de 07 de novembro de 2001, que fixam
os conteúdos essenciais e a duração do curso.
A estrutura curricular para formar enfermeiros, nesta universidade, tem duração de cinco anos e
está organizada em 5 (cinco) séries, a partir de 15 (quinze) Eixos Temáticos, distribuídos em 4.780
horas, acrescida da carga horária de 160 horas, destinada às Atividades Complementares (AC), bem
como da carga horária de 60 horas referentes ao componente curricular optativo, totalizando 5.000
horas para o Curso de Graduação em Enfermagem.
O currículo obedece ao regime seriado, organizado para operacionalização em blocos
semestrais. A carga horária de cada bloco, exceto o estágio, varia entre 340 a 560 horas semestrais. A
CH semanal é de 22(vinte e duas) horas em média.
Os Eixos Temáticos são constituídos por um conjunto de componentes curriculares,
desenvolvidos por meio de atividades acadêmicas individuais e em grupo, Atividades Integradas de
Saúde (AIS) e Atividades Complementares (AC). São atividades de caráter obrigatório, que ocorrem
da 1ª a 5ª séries e 1ª a 4ª séries do Curso, respectivamente.
As Atividades Integradas de Saúde (AIS) são desenvolvidas a partir de um tema ou problema
que integram os conteúdos das Ciências Biológicas, Ciências Humanas e Sociais e Ciências da
Enfermagem, possibilitando a articulação Teoria e Prática. São desenvolvidas em cenários reais de
ensino e aprendizagem, que possibilitam a construção do conhecimento a partir das experiências dos
discentes, bem como a inserção prévia destes no mundo do trabalho, oportunizando vivenciar a
realidade das Instituições de Saúde, de Educação e Comunidade, fortalecendo o desenvolvimento da
formação no campo do ensino, da pesquisa e da extensão universitária. Esta atividade tem como
objetivo proporcionar a interdisciplinaridade entre os componentes curriculares dos Eixos Temáticos
do Curso.
As Atividades Complementares (AC) são componentes que a priori estabelecem articulação
com a área de conhecimento do curso e preparam o profissional para sua inserção, não apenas no
mercado de trabalho, mas também para atuar como agente transformador da realidade social. As AC
são legitimadas pela Resolução nº 120/2013-CONCEN, de 28 de maio de 2013, Art. 2.º (ANEXO F).
Em relação aos Componentes Curriculares Optativos, o PP do Curso prevê 4 (quatro)
componentes curriculares. O discente deverá eleger 1 (um) componente curricular optativo dentre os
ofertados no semestre, da 2ª série a 4ª série do Curso. É necessário considerar que este componente
curricular optativo deve ser registrado no Histórico Escolar do Aluno e permitir a oferta com temas e
assuntos diferentes, garantindo aos alunos se inscreverem sem correr risco de superposição de horários
de componentes curriculares ofertados. Caso o discente queira cursar outro(s) componente(s)
curricular(es) optativo(s), ele poderá fazê-lo, porém, este(s) não constará(ão) no seu histórico, devendo
o discente receber certificado expedido pelo CRCA, com a respectiva carga horária.
4.7.1 – Metodologias e Estratégias para Operacionalização do Currículo Integrado
O Curso de Enfermagem da Universidade do Estado do Pará tem como eixo estruturante a
integralidade, princípio do Sistema Único de Saúde (SUS), o qual exigirá que o acadêmico de
Enfermagem esteja inserido nas redes de serviços de atenção básica e hospitalar de modo a estabelecer
um vínculo indissociável ensino/trabalho.
A Metodologia da Problematização, proposta por Berbel (1999), dentre outras metodologias
ativas, possibilitam a ação-reflexão-ação, com aproximações sucessivas do objeto estudado,
postulando o diálogo como uma prática essencial para o processo, levando docentes e discentes a
“sentar e discutir” de forma dialética, passando pela aquisição de uma consciência crítica individual e
coletiva, capacitando-os a intervir em contextos de incertezas e complexidades.
Conforme afirma Morin (2009 p.16), “pensar o problema do ensino, considerando, por um lado,
os efeitos cada vez mais graves da compartimentação dos saberes e da incapacidade de articulá-los,
uns aos outros; por outro lado, considerando que a aptidão para contextualizar e integrar é uma
qualidade inerente à mente humana que precisa ser desenvolvida, e não atrofiadada".
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