Pular para o conteúdo principal

Conceito e Classificação de Lesão por Pressão (Atualização NPUAP)

"A prevalência de lesões por pressão (LPP) tem aumentado nos últimos anos devido à maior expectativa de vida da população, decorrente de avanços na assistência à saúde, que tornou possível a sobrevida de pacientes com doenças graves e anteriormente letais, transformadas em doenças crônicas e lentamente debilitantes. Essa mudança de perfil gerou na prática um crescente número de pessoas com lesões cutâneas, principalmente a LPP. Dentre os fatores associados ao risco de desenvolvimento de LPP, destacam-se a hipertensão arterial sistêmica, diabetes, inconsciência, imobilização, perda de sensibilidade, perda de função motora, perda de continência urinária ou fecal, presença de espasmos musculares, deficiências nutricionais, anemias, índice de massa corporal muito alto ou muito baixo, doenças circulatórias, doença arterial periférica, imunodeficiência ou uso de corticosteroide e tabagismo.

Em abril de 2016, o órgão americano National Pressure Ulcer Advisory Panel (NPUAP) substituiu o termo úlcera por pressão por lesão LPP. Diferentemente de boa parte das alterações de pele, a LPP tem sido fonte de preocupação para os serviços de saúde mundiais, pois ainda se constitui em um problema no processo de atenção à saúde. 

Sua ocorrência causa vários transtornos físicos e emocionais ao paciente, como desconforto, dor e sofrimento, além de aumentar o risco de complicações, influindo na morbidade e mortalidade. Considera-se também os transtornos que a LPP trás para os familiares, além de onerar o custo do tratamento para o sistema de saúde. A presença ou a ausência de LPP é considerada indicador de qualidade e geralmente norteia a elaboração de políticas públicas, tomadas de decisão, estabelecimento de metas, bem como comparação entre instituições. 

A incidência das LPP varia significativamente de acordo com ambiente clínico e as características do paciente, sendo que em pacientes agudamente hospitalizados ou naqueles que necessitam de cuidados institucionais de longo prazo, as LPP ocorrem com maior frequência. Estimativas indicam que, anualmente e somente nos Estados Unidos, de 1 a 3 milhões de pessoas desenvolvem LLP, mais de 2,5 milhões de úlceras são tratadas em pacientes de instituições de cuidados agudos e 60 mil morrem de complicações secundárias a LPP. Um estudo baseado em contas hospitalares norte-americanas mostrou um aumento no número de internações envolvendo este tipo de lesão em aproximadamente 80% entre 1993 e 2006. 

Nesse, em mais de 90% dos casos, a LPP não foi a causa original da admissão, a maioria dos pacientes tinha mais de 65 anos e mais da metade dos pacientes necessitou de cuidados posteriores nas instalações de longa permanência em comparação com apenas 16,2% dos pacientes sem LPP. Outro estudo registrou que a maioria das LPP se desenvolve durante hospitalizações agudas, apesar da adoção de medidas nacionais de prevenção de lesões, e entre os pacientes internados em hospitais de cuidados agudos as taxas de prevalência variam de 3 a 17%. Essa taxa aumentou quando se tratou de grupos de alto risco para desenvolvimento de LPP. Encontrou-se também estudos que observaram o desenvolvimento de LPP em 36% dos pacientes idosos com fratura de quadril e que esse tipo de lesão também é comum entre os pacientes internados em instituições de longa permanência, com taxas relatadas naadmissão variando de 10 a 35%.

No Brasil, o registro de LPP e a obtenção da taxa de ocorrência (prevalência e incidência) são pouco frequentes. Há apenas estimativas ou estudos pontuais, e o número de casos e o custo de tratamento no Brasil não são conhecidos. Em um estudo desenvolvido em unidade de terapia intensiva de adultos, em um hospital escola de São Paulo, foi observada uma incidência de 23,1 % entre pacientes
considerados de risco para desenvolvimento de LPP(8). Estudo exploratório, quantitativo, em unidade de internação de pacientes adultos, em hospital universitário de São Paulo, obteve uma prevalência geral de 19,5% e 63,6% na Unidade de Terapia Intensiva, 15,6% na Clínica Cirúrgica, 13,9% na Clínica Médica e 0% na Semi-intensiva. 

Outro estudo verificou a ocorrência deLPP em um hospital público referência em trauma de Fortaleza. Em um população composta por 75 pacientes internados nos dois setores de estudo, 36% apresentavam LPP. Em estudo retrospectivo, de natureza quantitativa, realizado em uma instituição de longa permanência para idoso, em Fortaleza, a prevalência média de úlcera por pressão verificada foi de 18,8%.

Embora existam circunstâncias clínicas nas quais LPP é inevitável, a manutenção da integridade da pele do paciente restrito ao leito ou a recuperação da pele e/ou do tecido subjacente lesado baseia-se no conhecimento e na aplicação de medidas de cuidado de acordo com as recomendações fundamentadas nas melhores evidências. A atenção às LPP tem se destacado considerando o contexto do movimento global pela segurança do paciente, uma vez que pode causar prejuízos de diversas naturezas aos indivíduos e aos serviços de saúde. Ainda no Brasil, por meio do Programa Nacional de Segurança do Paciente, estabeleceu-se um conjunto de protocolos básicos definidos pela Organização Mundial de Saúde (OMS), dentre eles o de “úlceras por pressão”.

Os motivos pelos quais a OMS elegeu esses protocolos foi o pequeno investimento necessário para implantá-los e a magnitude dos erros e eventos adversos decorrentes da falta deles no Brasil. Órgãos internacionais historicamente têm contribuído para a construção, consolidação e revisão de diretrizes com recomendações baseadas nas melhores evidências e que auxiliam os profissionais na tomada de decisão e na implementação de condutas para prevenção e tratamento de LPP, além de auxiliar na elaboração de protocolos institucionais. Dentre eles, destacam-se as ações do National Pressure Ulcer Advisory Panel (NPUAP). Trata-se de uma organização profissional independente sem fins lucrativos dedicados à prevenção e gestão de LPP. O NPUAP foi criado em 1986, constituído por especialistas de cuidados à saúde de diferentes disciplinas. O NPUAP serve como uma referência para profissionais da saúde, governo, o público e agências de cuidados de saúde. É, portanto, uma entidade reconhecida internacionalmente.

 Em abril de 2016, a NPUAP publicou novas diretrizes para a classificação destas lesões e alterou a terminologia de úlcera por pressão.Portanto, o objetivo deste artigo é apresentar na língua portuguesa a terminologia, conceito e descrição dos estágios da úlcera por pressão estabelecidos pelo National Pressure Ulcer Advisory Panel em 2016. Esta publicação possibilitará maior acesso à informação atualizada do NPUAP pelos profissionais de saúde envolvidos na prevenção e tratamento de LPP. Desta forma, a prestação da assistência clínica e novos trabalhos de pesquisa poderão ser orientados
pela nova nomenclatura."




Autores: Juliano Teixeira Moraes , Eline Lima Borges , Cristiane Rabelo Lisboa , Danieli Campos Olímpio Cordeiro , Elizabeth Geralda Rosa , Neilian Abreu Rocha.

Comentários